A maternidade atípica – por Regiane Capraro

 

Por Regiane Capraro

A maternidade atípica

Sempre pensei que para ter um filho a pessoa tinha que estar “preparada”. O que era essa preparação em minha cabeça? Seria financeira? ou um casamento perfeito? ou estar psicologicamente  “preparada” para esta grande doação? para esta responsabilidade? Com o passar dos anos aprendi que estar “preparada” não existe. A maternidade acontece um dia após o outro, com erros e acertos, mas sempre tentando fazer o melhor para o seu filho ou filha.

Quando se está grávida, se deseja o melhor… uma gestação maravilhosa, parto tranquilo, criança perfeita e que um futuro brilhante. Isto é fato!

Mas….

E quando esta gestação não sai como planejado? Na formação no ventre, no parto, pós-parto ou o filho que cresce saudável e tem um acidente, ou desenvolve uma patologia e por aí vai… inúmeras mães passam por isso a toda hora. O que fazer¿ As mães se tornam sobreviventes com os seus filhos em uma sociedade que nos olha com pena, com segregação, onde a falta de conhecimento no assunto faz crescer os julgamentos errôneos de uma criança com deficiência.

Neste momento nos sentimos sozinhas, sem saber como vamos lidar com a situação, uma tristeza e raiva invade nossos corações junto com inseguranças, medos entram constantemente nos pensamentos sem saber o que o futuro reserva. Os anos vão passando, e vamos aprendendo a lidar com as correrias de médicos, terapias, noites sem dormir, cuidados diários, pois muitos filhos se tornam completamente dependente na sua vida diária. Mas uma coisa não muda, dar o melhor para o ele, a conquista desse melhor se torna muito difícil a cada ano que passa, pela falta de uma rede apoio e de oportunidades.

E com isso aprendi, não existe poção mágica que irá mudar a nossa realidade, mas existem duas opções… ACOMODAR ou ACEITAR. Quando uma mãe se acomoda por ter um filho com deficiência, ela se conforma na base, não sou merecedora! A vida é assim mesmo! Vou protegê-lo em casa ou em uma instituição “só com o tipo dele”. Ele é incapaz de aprender, de correr, de sentir, de desejar, de viver! Pois ele é diferente dos outros e não pode conviver junto com os ditos “normais”. Como se a pessoa com deficiência fosse OCA, sem sentimentos.  A outra opção é aceitar, aceitar é diferente de acomodar. Aceitar que ele veio ou ficou diferente, mas que ele pode ainda é capaz de fazer algumas coisas. Pode não conseguir falar, ver, ouvir, andar… mas ele está ai. Se ele está aí, ele tem o direito de viver da melhor maneira possível, aprendendo (dentro de suas condições), brincando, sentindo a sensação de correr, andar, nadar ou até voar…rsrs.

É fácil? Não! E quem falou que seria fácil, onde fomos programados para este mundo “perfeito”.

Quando aceitamos infelizmente incomodamos, “gladiamos” com uma sociedade através da injusta, onde querem nossos filhos isolados, dentro de casa ou em uma instituição. Isso não é falado para nós, mas através de comportamentos percebemos claramente que é assim que eles pensam.  Ser uma pessoa com deficiência incomoda, pelo fato de querer viver e ser feliz dentro das limitações, incomoda em ver a luta e não o comodismo, incomoda quando uma pessoa com deficiência inconscientemente faz o outro ir buscar, ir aprender, melhorar-se, ter que quebrar paradigmas impregnados nas mentes dos ditos “normais”.

Quando aceitamos o nosso filho com deficiência vamos para um mundo onde o amor prevalece acima de tudo, aprendemos o verdadeiro significado de empatia. Entendemos que ele tem uma deficiência que aceitamos sim, mas não vamos nos acomodar e sim correr atrás de respeito, dignidade e muito amor.

 

Imagem: Freepik