[Defeso do Camarão 3] Proibição tem que ser no outono, afirma biólogo

O camarão sete-barbas nasce e se reproduz apenas no Continente Americano. O crustáceo aparece no Sul do estado da Virgínia, nos Estados Unidos, desce pela América Central e chega ao Rio Grande do Sul. A captura, porém, ocorre até Florianópolis e um pouco em Laguna.

Ele é encontrado em profundidades de cinco a 20 metros, com maior incidência na casa dos 15 metros. As embarcações possuem parelhas de madeira com redes que varrem o fundo do mar atrás do camarão. Cerca de 75% dos machos e 63% das fêmeas presos nas redes são adultos, segundo estudos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

A faculdade tem diversas pesquisas sobre o camarão sete-barbas. Parte delas tem como autor o professor Joaquim Olinto Branco, biólogo e doutor em ciências. Ele explica que o pico de reprodução dessa espécie está fixada nos meses de outubro, novembro e dezembro. “Entre fevereiro e maio é a época com mais camarão na região, em números de indivíduos e em número de peso”, explica Olinto.

Em 2001, o pesquisador foi consultado pelo Governo Federal sobre os meses ideais para o defeso. O professor apresentou um parecer técnico indicando que a parada deveria ocorrer na primavera. Mesmo assim, o governo manteve o defeso no outono. Segundo Olinto, o governo argumentou em 2001 que o defeso entre março e maio seria para preservar parte do camarão-rosa e do camarão-branco que se reproduz no estuário do sete-barbas.

O biólogo refuta essa afirmação do governo e garante que os camarões rosa e branco se reproduzem em abundância na Lagoa dos Patos (Rio Grande do Sul) e, em menor quantidade, na Baía da Babitonga, entre Joinville e São Francisco do Sul. “Aqui na nossa região não existe abundância de camarão-rosa e branco no estuário do sete-barbas”, garante o professor.

Coordenadora do Cepsul sugere defeso regionalizado

O Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (Cepsul), localizado em Itajaí, faz parte do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e monitora espécies ameaçadas e outras, como o camarão. A coordenadora do centro e analista ambiental, Roberta Aguiar dos Santos, discorda do professor Olinto e garante que há incidência do camarão-rosa nas regiões estuarinas de sete-barbas em Penha e região. “É preciso cuidar dos camarões-rosa juvenis, eles precisam chegar à fase adulta. O sete-barbas sempre foi um camarão marginal, menor, de safra e para turista. O que se protege é o rosa grande, da pesca industrial, que só encontrados em alto mar”, diz a analista.

A coordenadora do Cepsul, Roberta Aguiar de Souza, diz que o defeso serve para proteger o camarão-rosa juvenil

Pesquisas do Cepsul apontam que a ida do camarão-rosa para a fase adulta acontece entre os meses de fevereiro e maio. Se essa espécie está em uma lagoa, por exemplo, e depois segue para o mar aberto, significa que vai passar pelas frotas de barcos artesanais, que estão capturando o sete-barbas. “Por isso o defeso agora, para que esse camarão-rosa consiga crescer e se desenvolver”, explica.

Roberta acredita que um defeso regionalizado poderia ser uma solução. Contudo, ela vê restrições a esse modelo. “Seria muito complicado separar qual barco está pegando o perereca (juvenil do rosa) e qual está pescando sete-barbas. Esse controle envolve o monitoramento de cada região”, conclui.

Para o biólogo Joaquim Olinto Branco é preciso, primeiro, fixar o defeso em outubro. Depois, indica o professor, o governo precisa definir áreas de descanso de pesca, ou seja, locais mapeados onde os pescadores ficam impedidos de capturar camarão, seja qual for a espécie. “Mas isso só vai acontecer com a mobilização das colônias de pescadores.

Em Penha, além da Colônia de Pescadores Z5, existe a Associação dos Pescadores Artesanais do Município de Penha (Apape), entidade privada que presta assessoria de seguro-defeso, licenças de pesca e aposentadoria para os 333 pescadores cadastrados. A presidente da associação, Mirela Caroline Costa, avalia que o tema Pesca é maltratado há muito tempo pelo governo federal. “Não só o defeso está errado. Tem pescador com mais de 20 anos de profissão que ainda não conseguiu tirar uma licença de pesca, que é básico. Nós defendemos o seguro, mas na época certa. Eu não sei mais o que falta para as autoridades mudarem isso. Os pescadores estão sofrendo”, afirma.