Janete Krueger em: URBANISMO SOCIAL

Um tema que pode não lhe parecer muito comum, mas a verdade é que o urbanismo social é uma estratégia de intervenção urbana que ganhou grande repercussão em Medellín, onde foi fundamental na transformação da realidade social dos bairros mais pobres da cidade.

Uma cidade precisa ser planejada, seja economicamente, socialmente ou em seu território, com uso e ocupação do solo adequados. E esse uso e ocupação é que fará toda diferença para as demais funções da cidade funcionarem (ou não!) pois não há como colocar um hospital ao lado de uma indústria, por exemplo. O planejamento urbano é o processo que busca controlar o desenvolvimento das cidades ordenando e regulamentando os locais de uso, bem como agir com intervenções diretas para conter possíveis usos indevidos. É preciso que o planejamento urbano atenda a uma serie de objetivos como mobilidade, zoneamento de uso e ocupação, qualidade de vida, sustentabilidade e também a ocupação adequada do território por seus moradores, para que tenham moradias dignas e em locais adequados, afastados de problemas como alagamentos ou deslizamentos.

Cidades bem planejadas tem mais qualidade de vida e também apresentam menores índices de violência. Na América Latina, temos 42 das 50 posições das primeiras  no ranking mundial de cidades com maiores taxas de homicídio de 2017 (segundo a organização mexicana Seguridad, Justicia y Paz). Pobreza, exclusão social, acesso precário a equipamentos básicos de assistência como saúde e educação restringem oportunidades ao mercado de trabalho aos jovens moradores de bairros pobres. Serviços de segurança oferecidos pelas policias civil e militares não são suficientes para garantir a segurança nas cidades, é preciso investir em qualidade no espaço urbano. O investimento precisa ser equiparado entre as várias zonas da cidade, sejam estas áreas residenciais nobres, industriais, comerciais ou de interesse social.

Há várias cidades pelo mundo que se utilizaram do urbanismo social para melhorar a qualidade de vida de seus moradores, e há dois exemplos a serem destacados, que é Medellin na Colômbia, a partir dos anos de 1990, tornou-se referência internacional ao abordar a questão do urbanismo com olhar mais social, articulando políticas urbanas para assim levarem aos bairros mais pobres melhores equipamentos públicos e serviços básicos. A cidade de Recife, ainda de maneira tímida busca seu lugar de destaque no planejamento social com a criação de dois Centros Comunitários de Paz (COMPAZ) que são prédios públicos para abrigar diversas atividades e serviços, como: esportes, cultura, saúde e promoção de cidadania.

E no ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, 17 são brasileiras, com altas taxas de homicídios e entram nessa lista Natal, Fortaleza, Belém, Maceió, Porto Alegre, dentre outras.

O Brasil lida com um modelo de gestão pública bastante complexo, não mantendo um rigor de seguir com projetos iniciados pela gestão anterior, seja na infraestrutura urbana, seja nas políticas publicas de assistência social. É preciso implantar uma agenda de urbanismo social nas cidades brasileiras focando em moradias, equipamentos urbanos, mobilidade e desenvolvimento econômico nos bairros. Ganha a população carente, ganha a cidade, ganha até mesmo a população mais abastada que vive em áreas nobres das cidades.  A eficiência da gestão publica e a contribuição e participação  da sociedade civil é o caminho para o sucesso.

 

Imagem: pexels