Hoje vamos falar sobre: “o que é ser uma Mãe Atípica” – por Regiane Capraro

Por Regiane Capraro

Hoje iremos pensar um pouquinho sobre o que é ser uma Mãe Atípica. A palavra atípica já tem com clareza que é o contrário de típico, logo, mãe atípica é a mãe que sai dos padrões, aquela que não se ajusta, não se adequa com a “mãe com filho normal”; é atípica porque seu filho ainda é considerado “diferente” da sociedade. Por trás dessa mãe atípica existem muitas coisas escondidas, como frustrações, solidão, desespero, sofrimento e para algumas à perda da identidade. Mas também muita força para lutar pelos direitos de seu filho, contra a discriminação e a exclusão sofridas e, principalmente, muito AMOR.

A sociedade sempre romantizou a maternidade e com o passar do tempo as mães atípicas também foram romantizadas e muito mais cobradas. Colocaram títulos como: perfeitas, heroínas, anjas, guerreiras, exemplos de cuidadoras entre outros. Muitas vezes as mães atípicas ultrapassam sim seus limites, por dias, meses, anos e até por uma vida toda. Mas a cobrança e falta de apoio são demais. Antes de ser mães, são mulheres como quaisquer pessoas com falhas e acertos. Mas não podem errar!

Eu sou uma mãe atípica! Tenho uma filha com deficiência, lesão cerebral. Quando nasceu Júlia passei todo um processo de adaptação, que se estende até hoje. No início, minha vida virou de cabeça para baixo, inúmeras foram as internações, crises convulsivas constantes, tive que parar de trabalhar, noites sem dormir, sustos, corres de terapeutas, vida social esquecida, etc. Hoje depois de vinte e um anos, minha rotina ainda continua um corre, mas consigo organizar ou me acostumei nesta loucura rsrsrsrs. Alguns amigos se foram, outros com afinidade e empatia chegaram e ficaram.

Percebi depois de 9 anos, que uma das coisas que é primordial na vida de uma mãe atípica, são as redes de apoio. Depois do luto, não se isole e vá buscar o mais rápido possível, embasar-se naqueles que estão na mesma situação, nas mães que choram e optam por buscar o riso. Ou profissionais que estudaram para ter conhecimento sobre a situação e dar apoio. Mesmo com desânimo, busque! O milagre está na busca das mudanças de visão, na transformação do “problema” em caminhos alternativos.

 Você pode gerar um filho atípico, pode acontecer na hora do parto ou no decorrer da vida dele, seja qual for, não será fácil. A culpa, medo, incertezas, dúvidas e o seu próprio questionamento. Além disso temos que lidar com a falta de apoio, olhares de julgamentos – entre outros – que vem da sociedade e vai em muitos casos até da própria família.  

 Tenho um grupo de amigas há mais de 10 anos, somos em 12 mães, todas com filhos e filhas com alguma deficiências, patologias raras, síndromes e transtornos. Este grupo foi criado por acaso, lá choramos, rimos, bebemos (umas cervejas, outras sucos), fazemos jantares para nos unir, brigamos e abraçamos, um grupo fechado, postamos fotos do cotidiano de cada uma, discutimos assuntos, fazemos fofocas, falamos na mesma língua de coisas sérias e de bobagem, sempre estamos juntas nas horas triste e de alegria, nos tornamos irmãs de coração.

Outro grupo é “Atenção as Mães Cuidadoras”, criado e coordenado há uns 4 anos por uma mãe, que diz: “a maternidade atípica me trouxe a forma mais potente de amar, mas me trouxe muita solidão”. Fazíamos antes da pandemia encontros mensais, com palestrantes abordando assuntos de psicologia, saúde e lazer. Nos acolhíamos trocando experiências, buscando nos reencontrar como pessoa.

Outra coisa importantíssima é a família – e amigos – que nos dão base para esta jornada. Eu tenho o privilégio de ter uma família que me apoia e amigos ímpares. Nós temos que aprender a reagir positivamente perante as críticas e ao conflito emocional, pois nossas fraquezas não irão nos deixar, e que não somos super mulheres. Somos pessoas normais, a procura sempre de um melhor, lutando para ter uma vida mais normal possível. A minha filha me ensinou a ter resiliência no meio de um mundo tão egoísta e tão conflitante.