Rua usada por bandidos como rota de fuga será fechada

Texto e fotos: Raffael do Prado

Qualquer barulho aqui na frente de casa me faz levantar da cama. Eu durmo muito mal”. O relato, do encarregado de manutenção José Carlos Inácio, 32 anos, revela a agonia dos moradores da Rua Francisco Machado, no Bairro Santa Lídia. A via, além de ser usada como rota de fuga por criminosos que atuam na região, também é alvo da ação de bandidos.

Os moradores da Francisco Machado ou foram assaltados ou conhecem alguém que foi. Essa história, no entanto, está para terminar. A prefeitura, a pedido do vereador Maurício Brockveld (Pros), vai fechar o acesso à rua pela Rodovia Transbeto, foco do problema.

Acesso à direita, via Rodovia Transbeto, será fechado pela prefeitura

  “A gente não quer saber de calçamento aqui. Se fechar a rua, nossa vida vai melhorar bastante”, afirma o pescador Pedro Domingos Bento, 48.

A casa do morador José Carlos fica em uma curva da Francisco Machado. Da varanda do imóvel ele tem uma vista privilegiada desse acesso que tanto traz dor de cabeça. “Faz um ano e cinco meses, quatro bandidos vieram aqui na rua assaltar. Eu soltei um rojão pra cima deles, que fugiram. Logo depois, graças a Deus, a polícia conseguiu prender eles. Mas é mais comum os bandidos conseguirem fugir”, relata.

Dois meses atrás, José se assustou quando um homem apareceu correndo pela rua, pedido ajuda. O sujeito tinha acabado de ser assaltado na rua. Dois homens levaram o veículo da vítima e fugiram da Francisco Machado pelo acesso da Transbeto. “Esse senhor entrou aqui na rua por esse acesso e os dois bandidos estavam de moto, escondidos no mato. Eles renderam a vítima, levaram o carro e nunca mais foram encontrados”, relembra.

O morador José Carlos Inácio (e) ajudou motorista que foi assaltado na rua

A Rua Francisco Machado é uma transversal da Estrada Geral da Santa Lídia e fica a cerca de 200 metros do viaduto da Transbeto, sentido bairro. Alguns anos atrás, segundo o morador Daniel José Anacleto, 50, a via era usada para passagem de carro de boi.

“A Transbeto passou por cima da rua e ficou esse pedaço no acostamento, por onde as pessoas cortam caminho. Ali também os bandidos aproveitam para fugir da polícia”, explica Daniel, que é pescador.

Conforme o Notícias de Penha apurou, o acesso será fechado pela Secretaria de Obras. O diretor administrativo da Secretaria de Planejamento, Everaldo Francisco, o Bodo, autorizou a ação e, segundo o vereador Maurício, a obra deve ocorrer nos próximos dias.

O que diz a PM

O comandante da 3ª Companhia de Polícia Militar de Penha, capitão Carlos Alberto Mafra Júnior, avalia que o fechamento daquele acesso da rua Francisco Machado via Transbeto vai auxiliar no trabalho da PM.

Rua terá apenas este acesso e será sem saída; a prefeitura vai instalar placas informando a mudança

“É um acesso a menos. Santa Lídia terá, naquela localidade, apenas um ponto de fuga [viaduto]”, diz Mafra.

Para ele, além do fechamento, é preciso melhorar o monitoramento por câmeras na cidade. Hoje, Penha tem 10 aparelhos espalhados de olhos nas ruas. A intenção da PM é dobrar este número até o final do ano.

“Nós estamos alinhavando isso com o prefeito Aquiles da Costa, que demonstrou parceria e comprometimento com esta questão”, pontua o comandante.

Ampliação do Rede de Vizinhos

O projeto Rede de Vizinhos está em 60 ruas do município e em 150 comércios. Segundo Mafra, o programa está bem avançado no Centro e na Praia Grande. “Precisamos levar também para toda a Santa Lídia. Já temos mapeadas algumas ruas, mas precisamos do engajamento dos moradores”.

A principal ferramenta de monitoramento do Rede de Vizinhos é o aplicativo WhatsApp. Os moradores que quiserem aderir ao projeto serão incluídos em um grupo específico da rua onde moram. Porém, vão precisar fornecer dados como CPF e RG e não ter antecedentes criminais. Se a ficha do morador for limpa, ele passa a integrar o exército de monitoramento da rua. Aí, cada casa terá uma placa de identificação com o nome do projeto. O custo das placas é de cada morador.

As ocorrências de furto e roubo em Penha, no mês de fevereiro deste ano, reduziram em um terço em comparação com fevereiro de 2016, segundo o capitão Mafra. “É claro que muitos dos dados não chegam até nós. As pessoas não acionam a Polícia Militar, mas números oficiais que temos apresentam uma redução substancial dos crimes de furto e roubo”, pondera.

Tem que registrar a ocorrência

Mafra diz que o Bairro Santa Lídia possui uma peculiaridade. “Muita gente do bairro simplesmente não registra as ocorrências. O nosso sistema mapeia os locais com maior incidência de crimes e eu vou planejar o policiamento com base nessas ocorrências”, avisa.

O capitão pediu que a população use dois canais de denúncia: o número 190 (a pessoa não precisa se identificar) ou o site da Polícia Militar do Estado, o www.pm.sc.gov.br, no link Denúncia (também pode ser anônimo).

“Daqui a seis meses, os aprovados no último concurso da PM vão se formar. Um dos critérios para distribuição de soldados é a quantidade de ocorrências registradas. Os casos acontecem, mas se não tiver registro por parte da população, vai parecer que Penha tem poucos crimes”, completa.