Árvore de Peixes

Uma parede da Rua Capitão Galdino, no Bairro Armação, ganhou uma árvore. Ela se levantou pelas mãos de mais 200 pessoas, sob a coordenação dos mosaicistas Brígida Dettmer e Renato Amorim. A Árvore de Peixes foi concebida como um presente à comunidade e à história de Penha.

A reportagem do Notícias de Penha entrevistou os artistas no último sábado (8), dia da instalação da obra, pertinho da Praia do Cascalho. O local, conhecido pelo belíssimo pôr-do-sol, ficou ainda mais bonito. 

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Como surgiu a ideia do mural?

Brígida Dettmer – A gente sempre teve vontade de fazer um mural colaborativo aqui [Praia do Cascalho]. Depois que descobri que o Renato[Amorim] é mosaicista, e também mora aqui, encontrei uma pessoa para apoiar essa ideia. E o nosso intuito era envolver a comunidade dentro de um tema que fosse interessante para a cidade. É uma homenagem a todos os pescadores e a uma das principais fontes de renda das pessoas que vivem aqui.

Renato Amorim – Além dessa temática envolvida com a cultura local, que é a cultura pesqueira, açoriana, o mural permitiu a participação da comunidade, que passa a se ver na arte. As pessoas vão caminhar aqui pela rua [Capitão Galdino] e observar a arte, sem precisar frequentar um espaço fechado; é uma forma de valorizar a auto estima da comunidade.

Houve envolvimento da comunidade?

Brígida – Foi muito maior do que a gente imaginava. Ficamos com medo de não conseguir 80 peixes e hoje [8/12, dia da entrevista] estamos com 200 peixes para instalar. O envolvimento local foi tão grande que tivemos que fazer três oficinas. Isso é algo gratificante. Cada peixe que chegava era uma satisfação: tem peixe do Uruguai, do Piauí e de muitos outros lugares do Brasil.

Renato – Para mim foi uma aula de Geografia, porque chegava peixe de cada lugar que eu nunca havia ouvido falar na minha vida. Com as redes sociais e as hashtags da vida, que tomam um proporção que a gente perde o controle, surgem essas surpresas.

Brígida – Hoje aqui na exposição tem duas mosaicistas que não conhecíamos: uma de Santos/SP e outra de Presidente Prudente/SP, que pegaram seus carros e vieram motivadas.

Onde o mosaico se encaixa na História?

Brígida – Na Grécia Antiga e na Itália, por exemplo, as pessoas era representadas em mosaico, já que não havia fotografia ou desenho. Eles juntavam pedrinhas para mostrar algum desenho. Muita gente começa autodidata e hoje existem muitas técnicas e muitos materiais para serem usados. Então se vocês olharem aqui [na árvore de peixes], tem mosaico de vidro, de pastilha, de azulejo fino, azulejo grosso, louça, tem mosaico até de lacre de lata de cerveja. E esta arte não produz lixo porque a cada pecinha que cai no chão, agente junta e usa.

Renato – A filosofia do mosaico, essa coisa de juntar os pedaços para construir um todo, é o nosso dia a dia. A nossa vida é uma construção de pedaços.

E por que instalar esta árvore na Praia do Cascalho?

Brígida: Olha ali [apontando para a enseada de Armação], precisa responder? Risos.

Renato – E aqui também é um lugar histórico. A Penha tem 60 anos de emancipação política, mas quase três séculos de história. A Armação de Itapocorói nasceu aqui na frente, nessa enseada. A importância histórica muito grande.

Brígida – Além da beleza natural e da importância histórica,tem muito da comunidade aqui. Com a criação da associação de moradores aqui do bairro [Amapg – Associação de Moradores e Amigos da Praia Grande, Cascalho e Poá], as pessoas começaram mesmo a viver em comunidade. Um cuida da casa do outro, um leva comida na casa do outro, um gela a cerveja para o outro. Então a gente não tinha como fazer em outro lugar que não fosse aqui. Aqui é o quintal da nossa casa.

Os artistas

Brígida Dettmer
Até os 40 anos ou foi professora de universidade ou trabalhou em algum cargo na área administrativa, a formação dela. Depois dos 40, passou a se dedicar ao mosaico e hoje tem uma empresa, a Cacos de Vida Mosaicos. Também atua em uma empresa de comunicação.
Renato Amorim
Proprietário da Pousada Bernúncia, administra o tempo que tem entre recepcionar hóspedes e a produzir mosaicos. Nos últimos 20 anos, raros foram os dias em que não juntou alguns cacos por aí.

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