Solidariedade que transforma vidas

Entidades sem fins lucrativos se desdobram para dar uma força a quem precisa de amparo

Raffael do Prado, especial para o DIARINHO (publicada no dia 4 de julho)
Foto: Douglas Schinatto

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A costureira Maria Lídia de Paula, 39 anos, trabalha com qualquer tipo de tecido. Ela faz barras de calça jeans, molda vestidos e cria peças conforme o pedido da clientela. Até os 18 anos, porém, Maria só conhecia do ofício da roça quando chegou ao Monte Alegre, em Camboriú, vinda do interior do Paraná. “Eu tinha pouca instrução e estava desestruturada”, relembra.
A família da moradora é uma das 80 atendidas pelo centro Espírita Casa de Jesus, no Conde Vila Verde. A entidade oferece apoio espiritual, cursos de qualificação e acompanhamento pedagógico para crianças e adolescentes. Maria é veterana no centro, onde os três filhos, de 15, 12 e cinco anos, frequentam semanalmente.
A dinâmica acontece de quarta a domingo, a partir das 14h. Antes de cada curso, as mulheres, praticamente 100% do público da entidade, assistem a uma palestra, de cerca de 20 minutos, no segundo andar da casa onde funciona a organização. Quinta (30), o salão estava lotado. A presidente da instituição, Nadir Dalla Nora, 64, explica que o objetivo da Casa de Jesus é amparar as famílias de maneira espiritual e material. “Por isso as palestras são antes das atividades. O foco é tornar melhor o ser”, comenta.
O centro Espírita Casa de Jesus foi fundado em 1954 por Erna Schmidt Leman, na região onde hoje é o município de Balneário Camboriú, emancipado 10 anos depois.
Ela atendia os carentes, lavava feridas, dava banho nas crianças, além de passar os ensinamentos de Jesus Cristo por meio da doutrina Espírita. Quando completou 42 anos, a entidade estendeu o trabalho para o bairro Conde Vila Verde, na vizinha Camboriú, num endereço mais que sugestivo: rua Amor Perfeito. “A gente percebia que muitas mulheres e gestantes aqui do bairro se deslocavam para Balneário Camboriú, percorrendo uma longa distância, sem condições financeiras. Por isso o centro também veio para cá”, explica a presidente Nadir.
Já que a predominância é a do público feminino, parte da rotina do centro é voltada às gestantes. As quartas-feiras, por exemplo, são dedicadas à assistência às mamães com acompanhamento gestacional, puericultura e atendimento psicológico. Quinta-feira, as aulas são de crochê, artesanato, tricô, costura, pintura, tecido e bijuteria. O material produzido nas oficinas fica com as alunas. “Elas acabam aprendendo a fazer e logo comercializam as peças [assim como fez a Maria Lídia]”, fala a coordenadora das oficinas de quinta-feira, Liane Fiuza Lima, 65.
Enquanto as mães participam das aulas práticas e se qualificam, os filhos recebem apoio pedagógico, amparados na doutrina espírita de Allan Kardec. Neste semestre, os alunos estão aprendendo sobre dois reinos da natureza, o vegetal e o mineral. “A partir de agosto vamos entrar no reino animal”, diz a evangelizadora Viviane Pires, 41. A também evangelizadora Janice Lazarin, 49, revela que os encontros com as crianças servem para incentivar a cooperação em grupo, o senso de cuidado com os materiais e o trabalho com diferentes tipos de materiais. “Sempre tentamos trazer uma ideia nova às aulas”.

São todos voluntários
As sextas-feiras no centro do Conde Vila Verde são dedicadas aos atendimentos médicos, de diferentes especialidades. As consultas são gratuitas e os médicos atendem voluntariamente, sem receber por isso. As coordenadoras, professoras e o pessoal que ajuda na cozinha também. “A única pessoa que recebe salário aqui é a senhora da limpeza”, destaca a presidente Nadir.
A maior parte dos 200 voluntários aparece no segundo sábado de cada mês, quando ocorre o bazar de roupas e sapatos. As peças, doadas para a entidade, são vendidas a 35 centavos cada, não importa o tamanho, estado de conservação ou marca. O dinheiro vai para o caixa do centro e é investido na estrutura.
Apesar de não pagar salário para professores e médicos, os custos da entidade são altos. Se faltar dinheiro, não tem café da tarde para as crianças ou material para a confecção dos enxovais das futuras mamães. Tudo que entra no caixa da Casa de Jesus chega por meio de doações ou do arrecadado com os bazares de roupa. Mas é preciso mais, para garantir folga no caixa e o abastecimento da dispensa da cozinha. Uma vez por semana, por exemplo, as famílias recebem alguns itens de cesta básica, como arroz, feijão, leite e óleo. No final do mês, as famílias ganham a cesta completa.
“Há dois caminhos para ajudar: doação de alimentos ou em dinheiro direto na tesouraria da sede do centro Espírita, lá na rua 600, número 123, centro de Balneário Camboriú”, disse a presidente Nadir.

ONG foca na reabilitação de crianças com lesão cerebral
A associação Beneficente Pássaros da Luz, em Itajaí, atende crianças e jovens com paralisia cerebral. Antes de contar como é o trabalho, é importante explicar que a ONG não oferece um tratamento, já que a palavra “tratamento” envolve uma situação de cura. A paralisia cerebral não é uma doença, não progride e não se altera. A cicatriz permanece para sempre.
As crianças que têm paralisia cerebral, de maneira geral, apresentam dificuldades motoras, de comunicação, funcional, de aprendizado e psicológicas. São nessas áreas do corpo que a Pássaros da Luz trabalha com uma técnica chamada “Educação Condutiva”, desenvolvida na Hungria pelo médico Andras Peto.
A teoria é baseada na premissa de que o cérebro danificado sempre tem uma grande capacidade residual e isto pode ser mobilizado com métodos apropriados. E esses métodos são aplicados para as 34 crianças e jovens atendidos pela ONG, que fica na rua Brusque, centro de Itajaí.
Fundada há 10 anos, a Pássaros da Luz depende de um convênio com a prefeitura, colaboração dos pais dos alunos e doações de empresas privadas.
Cristiane Nadaleto, 34, coordenadora da ONG, explica que os alunos e alunas aprendem a coordenar movimentos do corpo a partir de um atendimento especializado. “Todos os brinquedos e objetos usados na reabilitação são específicos para pessoas portadoras de sequelas ocasionadas por lesão cerebral”, diz.
Todas as crianças possuem lesão cerebral, mas realidades distintas. Algumas têm menos força nos braços, outras têm os membros rígidos. Há também alunos com dificuldade para caminhar e para falar. Para cada uma delas, os professores utilizam diferentes técnicas da Educação Condutiva, como ginástica para os músculos. Entre um exercício e outro, as crianças cantam e se divertem.
O custo mensal de manutenção da ONG gira em torno dos R$ 20 mil; os funcionários, uma condutora, oito professores, três administradores e uma pessoa para serviços gerais são todos remunerados. À conta, são acrescidas despesas com energia elétrica, água e o aluguel da sede. A alimentação das crianças é fornecida pelos pais, já que muitas têm intolerância a alguns alimentos. A prefeitura de Itajaí repassa cerca de 90 mil reais anualmente para a Pássaros da Luz por meio de convênio. Não é preciso quebrar a cabeça com a conta para perceber que a entidade precisa de ajuda. “Todas as doações são bem-vindas. Precisamos muito de material de limpeza, por exemplo, e de doações em dinheiro para manter os custos”, pede a coordenadora Cristiane.

Capacitação para os professores
Bazar de roupas é uma das atividades no centro do Conde Vila Verde
A Pássaros da Luz oferece o curso de Agente de Apoio de Educação Especial com carga horária de 12 horas para os professores da rede municipal de ensino. As aulas misturam teoria e prática de como trabalhar com crianças com deficiência e que tipos de adaptações podem ser feitas em salas de aula para receber os alunos com sequelas de lesão cerebral. “Nós apresentamos os jogos e materiais pedagógicos adaptados e as prevenções e orientações de postura e posição das crianças”, explica Cristiane.

Como ajudar?
Indo direto na sede da ONG, na rua Brusque, 241, centro de Itajaí. O telefone de contato é (47) 3349-9333. A entidade aceita doações por meio de depósito bancário em uma conta aberta exclusivamente para ajudar. É no Banco do Brasil, agência 5212-4 e conta corrente 7457-8, em favor do Centro de Pesquisa de Educação Condutiva Pássaros da Luz.
Todo mês de novembro, a ONG lança um calendário com fotos das crianças e jovens atendidos. O material é vendido pelos pais a R$ 10 e o dinheiro arrecadado vai direto para o caixa da entidade. As fotos do calendário 2017 já foram produzidas e quem quiser comprar basta aparecer lá na ONG, a partir de novembro, ou comprar direto com os pais dos alunos.