Ações para barrar mortes e acidentes de trânsito

Movimento busca conscientizar motoristas sobre a importância de um trânsito seguro e pacífico. Itajaí: 1591 batidas e 10 vítimas fatais só este ano. Balneário: já são 857 acidentes e duas mortes

Raffael do Prado, especial para o DIARINHO (publicada no dia de 16 maio)  

Quarenta e três mil. Essa é a quantidade de pessoas que morrem em acidentes de trânsito no Brasil todos os anos. Os números são do Ministério da Saúde e da organização Mundial da Saúde (OMS), que classifica os acidentes como uma epidemia mundial. Para ter uma ideia do problemão, o Brasil é o quinto no ranking dos países com mais mortes no trânsito. Aqui, morre mais gente em ruas, avenidas e rodovias, do que de câncer.
Como forma de tentar diminuir as estatísticas, a organização das Nações Unidas (ONU) decretou que esta será a década de ações para a segurança do trânsito. Esse enfoque surgiu em maio de 2011 e a cor amarela foi escolhida por representar o símbolo de atenção nos semáforos. Nasceu assim o Maio Amarelo. Mas ainda há muito que ser feito.
Em Itajaí, nos primeiros quatro meses deste ano, a coordenadoria de Trânsito (Codetran) registrou 1591 acidentes. Dez deles resultaram em morte, como a do motociclista Jonatha Gamba, de 26 anos. Ele caiu de moto e foi atropelado por um ônibus da Coletivo na avenida Sete de Setembro, no dia 14 de abril.
A avenida, conforme dados da Codetran, é a segunda no ranking de acidentes em Itajaí. A campeã de ocorrências é a avenida Marcos Konder, no coração da cidade. Estão ainda na lista as ruas José Pereira Liberato, as avenidas Reinaldo Schmithausen, Abrahão João Francisco (Contorno Sul), Adolfo Konder e a rodovia Osvaldo Reis, que faz a ligação entre Itajaí e Balneário Camboriú.
Ano passado, nos quatro primeiros meses, as ruas e avenidas de Itajaí registraram oito mortes e 1320 acidentes. Se 2016 continuar nesse embalo, fecharemos o ano com um aumento significativo nas mortes na cidade.
A escriturária Vanessa Jungleos, 25 anos, sofreu um acidente na avenida Marcos Konder, a recordista de Itajaí. Ela seguia da avenida para rua Marcílio Dias, por uma das aberturas da avenida. Um carro que ia no sentido porto/hotel Ibis parou para que Vanessa cruzasse a pista. Porém, um outro motociclista vinha pelo corredor da Marcos Konder e acertou-a em cheio.
A jovem sofreu fraturas no pé direito, está fazendo fisioterapia e não sabe quando voltará a trabalhar. “Estou tentando recuperar os movimentos do pé. Minha moto ficou bem estragada e tive que trocar muitas peças”, recorda.
A escriturária teve mais sorte que o empresário Clésio Tomio, 51 anos. Ele morreu no dia 16 de março no hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí, após sofrer um acidente de moto no mesmo lugar que Vanessa. Clésio era proprietário da Transtomio Transportes.
As câmeras de monitoramento da avenida Marcos Konder filmaram todo o acidente. Elas mostram o momento que Clésio, pilotando a 600cc, placa HDS 7833 (Itajaí), segue pela Marcos Konder em alta velocidade e o Siena, placa MHV 9777 (Itajaí), guiado por Fábio Merlim, sai da rua Marcílio Dias e acerta o motoqueiro em cheio. Com o impacto da batida, o empresário voou longe, foi socorrido, mas morreu no hospital.

Os acidentes em números
Janeiro a abril de 2016
Itajaí
Acidentes: 1591
Mortes: 3 (pedestres), 5 (motos) 1 (ciclista) e 1 (automóvel)
Balneário Camboriú
Acidentes: 857
Navegantes
Acidentes: 373
Janeiro a abril de 2015
Itajaí
Acidentes: 1320
Mortes: 3 (motos), 4 (carros) e 1 (bicicleta)
Balneário Camboriú
Acidentes: 728
Mortes: 2 (motos)
Navegantes
Acidentes: 191
FONTES: CODETRAN E PMS DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ E NAVEGANTES

Acidentes aumentaram em Balneário
A vizinha Balneário Camboriú também teve aumento no número de mortes e acidentes. De janeiro a abril deste ano foram 857 ocorrências e duas mortes. Ano passado apenas uma morte foi registrada nos 728 acidentes nos quatro primeiros meses.
Segundo a polícia Militar, apesar do grande número de batidas, os atropelamentos diminuíram depois que a prefeitura instalou faixas de segurança elevadas. “A queda foi de 95%. Antes das faixas, atendíamos a uma dezena de chamados de atropelamentos por dia”, afirma o cabo Denício Rosa, do setor de Comunicação Social da PM de Balneário Camboriú. Segundo ele, as motos estão envolvidas na maioria dos acidentes. Ano passado, duas pessoas morreram na marginal Leste. Em 2014, um pedestre foi atropelado na mesma via.
Das três cidades pesquisadas pelo DIARINHO, somente Navegantes não registrou mortes nos quatro primeiros meses de 2015 e de 2016. No entanto, os acidentes foram de 191 (2015) para 373 este ano. Os dados englobam ainda as cidades de Penha, Luís Alves e Balneário Piçarras.

As ações do Maio Amarelo
Itajaí

Dia 17 tem ação no parque Ecológico Alessandro Weiss, no bairro São João, com blitz educativa e distribuição de folders e troca de ideias entre motoristas e a turma da Codetran. O encerramento do movimento em Itajaí será no dia 28, com caminhada da praça Vidal Ramos, no centro, até a igreja Matriz, onde vai ter depoimentos de pessoas envolvidas com a conscientização no trânsito.
Balneário Camboriú
Domingo teve Cãominhada no centro. Segunda-feira, tem comando educativo da PRF em Itapema. No dia 19, o comando educativo será na praça Almirante Tamandaré, centro da cidade.

As vias campeãs de acidentes em Itajaí
Avenida Marcos Konder
Avenida Sete de Setembro
Rua José Pereira Liberato
Avenida Coronel Adolfo Konder
Avenida Reinaldo Schmithausen
Avenida Abrahão João Francisco
Rodovia Osvaldo Reis
FONTE: CODETRAN

Mortes na BR-101 reduziram 38%
Dados da concessionária Autopista Litoral Sul, empresa que administra a BR-101 em Santa Catarina, apontam para uma redução de 38% na quantidade de mortes na rodovia, no trecho entre Navegantes e Balneário Camboriú. Em 2011 foram 24 vítimas fatais, contra 15 no ano passado. A empresa não forneceu os dados relativos aos primeiros quatro meses de 2016.
Para o gerente de operações da concessionária, Ademir Custódio, as melhorias na pista e pontes e a construção de marginais e passarelas são responsáveis por essa queda. Mesmo assim, segundo ele, a empresa ainda luta contra o comportamento abusivo e imprudente de muitos motoristas. “A empresa faz a sua parte. O Brasil tem um problema sério com trânsito, é uma doença que mata mais do que guerra”, diz o gerente.
Uma vez por mês, a Autopista promove ação em parceria com a polícia Rodoviária Federal no norte do estado. Parte da frota de caminhões e carros que chegam a Santa Catarina é vistoriada nessas operações. Segundo Ademir, 40% dos caminhões que descem a serra paranaense têm problemas de freio. “É uma frota sem manutenção, e muitos desses caminhões seguem para os portos de Itajaí e Navegantes”, completa.
Esse fluxo de carretas, principalmente no verão, se encontra com os carros de passeio em viagem para as cidades litorâneas catarinenses, como Balneário Camboriú. “A maior parte dos veículos que transita na rodovia na altura de Itajaí é de carga pesada. Em contrapartida, Balneário recebe veículos menores. O encontro dessas frotas gera um conflito de interesses: os caminhões em baixa velocidade e os carros em velocidade, acima do permitido. O resultado são engavetamentos e colisões traseiras”, explica.
Como forma de coibir imprudências e acidentes, a Autopista promove campanhas durante todo o ano em escolas públicas de Santa Catarina e do Paraná. O projeto atinge mais de 16 mil alunos. “Podemos educar essas crianças para formar uma sociedade melhor. Elas puxam as orelhas dos pais”, conta.

Conscientizar e conscientizar
O chefe do núcleo de policiamento e fiscalização da delegacia da polícia Rodoviária Federal de Itajaí, inspetor Lóes, acredita que a mudança passa pela conscientização e respeito ao próximo. “Falta muita paciência. A culpa da maioria dos acidentes é dos motoristas, que são imprudentes: dirigem pelo acostamento, não usam cinto de segurança e ainda conduzem veículos sob o efeito de álcool”, afirma.
A PRF está promovendo parcerias com as diferentes polícias e prefeituras da região. São os chamados comandos, blitze para conversar e orientar os motoristas. “Além desses comandos, promovemos palestras em empresas e escolas. O importante é unir força contra esses acidentes”, completa.
Para o diretor de educação no trânsito da Codetran, Jean Reinert, só a educação pode alterar o quadro atual. “Mas essa é uma das coisas mais difíceis de fazer: educar alguém. É preciso insistir e insistir. A pessoa só aprende se estiver disposta”, argumenta.
Em Itajaí, a Codetran também trabalha com educação no trânsito nas escolas, onde estão os motoristas do futuro. “Um remédio amargo para coibir a imprudência é a multa. Você leva uma, duas e na terceira, com certeza vai pensar antes de ser imprudente”.

Ações do Maio Amarelo
Em 2010, um relatório da OMS apontou que 1,3 milhão de pessoas morreram em acidentes de trânsito em 178 países. Dessas, 50 milhões sobreviveram com sequelas. Conforme a ONU, três mil pessoas morrem por dia nas estradas e ruas mundo afora.
O Maio Amarelo surgiu para derrubar em 50% esse número, já que as previsões apontam para 1,9 milhão de mortes até 2020. A “Década de Ação para a Segurança no Trânsito” surgiu para salvar algumas milhares de vidas.